João Pedro Teixeira, lhe tiraram a vida, mas a luta continua. Conta com a gente!

Há exatos 58 anos, um dos grandes líderes camponeses do Estado da Paraíba foi covardemente assassinado a mando dos grandes latifundiários paraibanos, JOÃO PEDRO TEIXEIRA. Negro, pai, esposo, pobre e camponês, João Pedro pregava uma vida melhor para as famílias camponesas oprimidas pelos latifundiários, lutava por justiça social, Reforma Agrária, Educação, direitos dos/as trabalhadores/as rurais e por isso também foi assassinado.

João Pedro Teixeira, nasceu em 04 de março de 1918, na cidade de Pilõezinhos, na época distrito de Guarabira/PB. Filho de arrendatário de nome igual João Pedro Teixeira (pai) e Maria Francisca da Conceição (mãe), João Pedro teve uma irmã de nome Severina, que veio a padecer de tuberculose, na cidade de Sapé/PB, com um pouco mais de 20 anos de idade. João Pedro seguiu os ensinamentos e também as revoltas do pai, que se solidarizou com a causa campesina e não aceitou as opressões ao povo camponês, se envolvendo em diversos conflitos pela causa. Um desses conflitos resultou em perseguição por parte dos latifundiários, obrigando-o a abandonar a família e fugir para não ser morto. Com isso, João Pedro, a mãe e a irmã tiveram que mudar de lugar para fugirem das perseguições. Em seguida, foi morar com os avós e sua mãe e irmã foram morar em Guarabira. Com a morte dos avós, João Pedro foi morar com um tio em Massangana, na cidade de Cruz do Espirito Santo/PB, onde iniciou seus posicionamentos contra a exploração do povo Camponês.

Foi a partir Massangana que João Pedro vivenciou e aprofundou sua luta camponesa. Assim que atingiu maior idade, foi trabalhar na pedreira em Café do Vento, na época município de Sapé/PB e lá bem próximo conheceu a jovem Elizabeth Altino, consanguínea do latifúndio paraibano. Elizabeth trabalhava no barracão do pai, assim, foi no balcão e na venda de produtos que João Pedro e Elizabeth se conheceram, iniciando um dos mais belos romances camponeses de nossa contemporaneidade. Mesmo com o pai de Elizabeth não aceitando a união dos dois, pelo motivo de João Pedro ser negro e pobre, eles continuaram se relacionado e em seguida casaram-se em 26 julho de 1942, em Cruz do Espírito Santo/PB. Foram morar em Massangana e lá viveram de 1942 a 1944. João Pedro, sensível com o modo de vida das famílias camponesas e indignado como eram maltratados, contestou como seu tio, gerente de uma fazenda, tinha expulsado uma família de camponeses e decidiu buscar outro lugar para viver. Já com uma filha, deixou Elizabeth na casa de sua mãe, na cidade de Sapé, e foi buscar emprego em Recife. No ano de 1945 foi morar em Jaboatão/PE e trabalhar em pedreira. Se tornou seguidor do protestantismo e atuante da caminhada libertária de Jesus Cristo.

Na pedreira, se destacou como liderança, com o aumento das injustiças para a classe trabalhadora. Naturalmente se tornou líder dos operários e em sua casa iniciou as reuniões com os trabalhadores da pedreira. A partir dessas reuniões, criou-se o Sindicato dos Operários, o qual João Pedro foi eleito presidente, seguindo a luta por direitos da classe trabalhadora. Assim, não tardou as perseguições, João Pedro já não conseguia emprego devido ao seu envolvimento com as causas dos trabalhadores, consequentemente, as dificuldades bateram à porta de sua família. Em 1954, já com 6 filhas/os, João Pedro e Elizabeth Teixeira receberam a propostas de ir morar em Antas do Sono, zona rural de Sapé/PB.

Na época, João Pedro já era conhecedor da experiência da Liga no Engenho Galileia e, com o avanço do latifúndio e suas práticas desumanas, não demorou para novamente para João Pedro apoiar a causa das famílias camponesas. Suas ideias começaram a se espalhar pelos campos da várzea paraibana e também passou a ser procurado para orientar como se comportar diante das injustiças. Com isso, em 1955, em frente à casa de João Pedro e Elizabeth, em Antas do Sono, no município de Sapé, aconteceu o primeiro encontro dos camponeses de Sapé, já naquele momento com a presença de Nego Fuba (João Alfredo Dias) e Pedro fazendeiro (Pedro Inácio de Araújo).

A reação dos latifundiários foi imediata. Após saberem do acontecido, prenderam e espancaram João Pedro no outro dia. Surgiram novas estratégias de mobilização, encontros relâmpagos nas feiras, fazendas e outros lugares em Sapé. Diante do aumento das pessoas que aderiram as ideias por serem vítimas dos maus-tratos dos proprietários de terra, em 1958, foi criada a Associação dos lavradores Agrícolas de Sapé, mais conhecida como “Ligas Camponesas”, ficando João Pedro como vice-Presidente.

Com sua fama se espalhando por ter sido considerado como um homem articulador, corajoso e que representava as 14 ligas camponesas da federação, João Pedro tornou-se um dos maiores inimigos dos latifúndios Paraibanos. Recebendo ameaça frequentemente de morte por todo seu histórico, João Pedro não desanimou e continuou a fazer o que acreditava.

No dia 02 de abril de 1962, João Pedro Teixeira foi até João Pessoa se reunir com os advogados e aproveitou para comprar livros para seus filhos. Ao voltar para casa, quando desceu do ônibus, na BR-230 que liga Sapé a João Pessoa, veio caminhando e, já próximo a sua casa, foi covardemente assassinado com três tiros nas costas numa emboscada. Este crime aconteceu a mando do Grupo Várzea, como era conhecido e temido na época.

Elizabeth Teixeira só ficou sabendo do ocorrido na manhã seguinte e, ao se deparar com o corpo de seu companheiro, falou a seguinte frase: “João Pedro, por mais de uma vez, me perguntou se eu daria continuidade à sua luta e eu nunca te dei minha resposta. Hoje eu te digo, com consciência ou sem consciência de luta, EU MARCHAREI NA SUA LUTA, JOÃO PEDRO, PROQUE DER E VIER.”

É inspiradas/os nessa história que o Memorial da Ligas e Lutas Camponesas reafirma seu compromisso de manter viva a História e a Memória desse Líder camponês e Herói Nacional que representou e representa a classe Camponesa.

Att:

Memorial das Ligas e Lutas Camponesas

Referências:

CONSULTA POPULAR, JOÃO PEDRO: vivo na memória e nas Lutas dos trabalhadores. João Pessoa: Ideia, 2002.

HAM, Antônia, et al (orgs.). MEMÓRIAS DO POVO: João Pedro Teixeira e as ligas camponesas. João Pessoa: Ideia, 2006.

4 comentários em “João Pedro Teixeira, lhe tiraram a vida, mas a luta continua. Conta com a gente!”

    1. Olá, companheiro Edmilson Fidelis.
      João Pedro Teixeira, sem dúvida, foi muito corajoso.
      Em sua época não teve tempo de ter medo lutou, organizou, mobilizou e mostrou uma direção para acabar com a violações que sofriam as famílias camponesas.
      Em meio a violência do latifúndio nasceu as Ligas Camponesas.

      Att

      Weverton Rodrigues – Historiador/Pesquisador e Educador Popular
      do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas.
      Contato: (83) 9 9633-1367

      Memorial das Ligas e Lutas Camponesas (MLLC)
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      Twitter: MLLC_2006
      Telefone/Whatsapp: (83) 9 9130-4082

  1. Acabei de conhecer a história de João Pedro através da Olimpíada Nacional de História do Brasil. Que no sirva de inspiração!

    1. Olá, companheiro Carlos Filgueiras.
      João Pedro Teixeira, sem dúvida, é uma referência.
      Em sua época não teve tempo de ter medo lutou, organizou, mobilizou e mostrou uma direção para acabar com a violações que sofriam as famílias camponesas.
      Em meio a violência do latifúndio nasceu as Ligas Camponesas.

      Att

      Weverton Rodrigues – Historiador/Pesquisador e Educador Popular
      do Memorial das Ligas e Lutas Camponesas.
      Contato: (83) 9 9633-1367

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