Elisabeth Teixeira:  plantou sementes, abriu caminhos para as mulheres lutarem!

Elisabeth Teixeira é uma mulher marcada para viver, não só porque chegou ao seu centenário, mas por ter plantado resistência na luta pela terra e por reforma agrária!

Em 2 de abril de 1962, ao saber do assassinato de seu marido, o líder camponês João Pedro Teixeira, Elizabeth disse a seguinte frase: “João Pedro por mais de uma vez me perguntou se eu daria continuidade à sua luta e eu nunca te dei minha resposta. Hoje eu te digo, com consciência ou sem consciência de luta, EU MARCHAREI NA SUA LUTA, JOÃO PEDRO, PRO QUE DER E VIER.”

Dessa forma, Elisabeth seguiu. Assumiu a Liga Camponesa de Sapé e depois a Liga do estado da Paraíba, dobrando o número de associados e associadas da mesma.

Em 1964, com o golpe civil e militar, a vida de Elisabeth se transformou. Ela passou para a clandestinidade, agora era Marta Maria, lavadeira e alfabetizadora, em São Rafael, no interior do Rio Grande do Norte.

No entanto, durante todo este percurso, Elisabeth mostrou que era possível para as mulheres lutarem por direitos para as trabalhadoras e os trabalhadores do campo. Animou as mulheres a se organizarem e a liderarem as lutas do povo. Foi o caso de Margarida Maria Alves e Maria da Penha, em Alagoa Grande (PB), e de tantas outras dirigentes que hoje se inspiram no exemplo de Elisabeth.

A Paraíba é uma boa referência no quesito mulheres lideranças e, por isso, convidamos algumas dirigentes e coordenadoras a falarem sobre o significado de Elisabeth Teixeira para a luta. São elas: Roselita Vitor, uma das coordenadoras do Polo Sindical da Borborema e organizadora da Marcha Pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia; Dilei Schiochet,  dirigente do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Maria José, a filha de Elisabeth Teixeira; Fernanda Castro, do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM); e Tânia Maria de Sousa, coordenadora estadual da Comissão Pastoral da Terra (CPT);. Para estas mulheres, Elisabeth tem significados múltiplos e ao mesmo tempo algo em comum: a resistência e o exemplo de que a luta vale a pena e de que a pauta da reforma agrária precisa continuar. Viva Elisabeth Teixeira! Viva seu centenário.

ROSELITA VITOR:

Elisabeth Teixeira, ela significa, para mim, semente. Uma mulher que com seu centenário de vida se dedicou a semear justiça e equidade aos camponeses e camponesas na Paraíba. Falar de Elisabeth, pensar no significado de Elisabeth é a gente rememorar uma mulher forte, uma mulher decidida, uma mulher que se entregou a luta dos camponeses e camponesas, mesmo quando seu companheiro foi assassinado. E ela seguiu lutando, ela seguiu firme, então Elisabeth tem esse significado, para mim, de semente, de utopias possíveis, de justiça e, como camponesa, assentada da reforma agrária, ela é uma referência para não desistir da luta, para se encorajar, para mobilizar outros camponeses e camponesas, me sinto assim na luta do Polo da Boborema e me sinto assim na Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. Viva Elisabeth, viva a sua luta, viva o seu legado!

(Roselita Vitor, do Polo Sindical da Borborema e organizadora da Marcha Pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia.)

DILEI SCHIOCHET:

Ora ela é Marta Maria, ora é Elisabeth. Ela é essa mulher, resistente, persistente e inspiradora. Resistente pelas suas ideias e práticas humanistas, persistente porque, ainda após 100 anos, a reforma agrária ainda não aconteceu, o analfabetismo ainda não foi eliminado, a terra não está na mão dos camponeses que precisam e a crise alimentar se acena porque não se partilhou essa terra. Ela é fonte de inspiração porque sua vida ainda é muito simples, ela é muito meiga, ela é muito carinhosa, ela nos inspira que devemos ter uma vida simples e que não precisamos de grandes patrimônios porque o maior patrimônio é sua história, vivida, combatida, contada, inebriada todos os dias.

(Dilei Schiochet, dirigente do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra da Paraíba da Paraíba (MST))

MARIA JOSÉ:

Elisabeth significa para mim um bem maior, a mulher que (Maria José, filha de Elisabeth e João Pedro Teixeira)me gerou, a mulher que me deu a vida. Elisabeth, uma mulher forte, guerreira, que continuou a luta do meu pai, João Pedro Teixeira, em prol de melhoria para o homem do campo, uma luta digna em benefício do trabalhador do campo, então, ser filha de Elisabeth Teixeira, para mim, é um motivo de muito orgulho.

(Maria José, filha de Elisabeth e João Pedro Teixeira)

FERNANDA CASTRO:

Celebrar a vida centenária de Elizabeth Teixeira é comemorar conquistas que vêm das lutas do povo camponês, da liderança de uma mulher que teve a coragem de enfrentar seus algozes em nome da justiça social e da construção de um mundo melhor. Viva Elizabeth Teixeira. Viva a memória das Ligas Camponesas!

(Fernanda Castro (Instituto Brasileiro de Museus/IBRAM)

TÂNIA MARIA DE SOUSA:

Elisabeth Teixeira, o que ela significa para mim? Destaco 3 pontos que define a mulher Elizabeth, para mim: 1. Resistência; 2. ⁠Resiliência; 3. ⁠Capacidade feminina.

RESISTÊNCIA: a história de vida de Elizabeth é marcada por uma trajetória onde tudo operava contra seu destino. Isso desde a sua escolha de casamento, passando pela militância do seu esposo no maior movimento em defesa da Reforma Agrária, que contrariava o pensamento da sua família e da burguesia agrária da região da Várzea e que foi isolada da própria família E perseguida por assumir a liderança das ligas após o assassinato do seu companheiro.

RESILIÊNCIA: em todas as circunstâncias da vida, assassinato de João Pedro, suicídio de filho, separação dos filhos, exílio, … mesmo assim em cada situação ela teve a capacidade de se reinventar. Não se deixou abater pelas situações difíceis que foram impostas pra ela. Como educadora, aproveitou o anonimato, no interior do Rio Grande do Norte, para alfabetizar crianças, isto é, ela não permitiu que o projeto do latifúndio lhe isolasse.

CAPACIDADE FEMININA: por último, me convenço que toda esta sua energia que a levou a superar esta carga de sofrimento, ela enfrentou no silêncio, mesmo sofrendo a dor da separação dos filhos e da família, conseguiu dar sentido a sua vida se colocando na solidariedade e combatendo o sofrimento de outras pessoas. Acho que esta energia vem de uma mulher nordestina que consegue encontrar saídas para as piores situações diversas que lhe aparecem.

Olhando para Elizabeth Teixeira, hoje, me surge um mix de sentimentos. Sua trajetória de vida me faz pensar que não estou sendo coerente com o compromisso da mudança da sociedade que é a justiça social.

(Tânia Maria de Sousa, coordenadora da Comissão Pastoral da Terra na Paraíba (CPT)).