05 fev Elizabeth Teixeira: um século de resistência na voz de sua filha e neta
No centenário de Elizabeth Teixeira, fomos conversar com sua neta, Wyliana Costa, e com sua filha, Maria José, para conhecermos mais sobre como a família dela encara a história de vida e de luta de Elizabeth.
Neste dia 13 de fevereiro de 2025, Elizabeth vai completar 100 anos. Uma mulher que teve sua vida marcada de luta e sofreu intimamente as consequências da violência do latifúndio, praticada em sua terra natal, Sapé, município localizado na região da Várzea Paraibana. No dia 2 de abril de 1962, Elisabeth Teixeira viu seu marido, João Pedro Teixeira, morto. Elizabeth e João Pedro tiveram onze filhos.
Elizabeth Teixeira só ficou sabendo do assassinato do marido na manhã seguinte e, ao se deparar com o corpo de seu companheiro, falou a seguinte frase: “EU MARCHAREI NA TUA LUTA, JOÃO PEDRO, PRO QUE DER E VIER.”
Tendo seu marido morto em 1962, Elisabeth passou a enfrentar a intensa repressão aos camponeses neste período, e logo após, a situação foi agravada pelo golpe militar de 1964. Elizabeth enfrentou perdas, como o suicídio de uma filha, deprimida com a morte do pai e as prisões da mãe; o assassinato de dois filhos (José Eudes Teixeira e João Pedro Teixeira Filho) por ordem de latifundiários. Vendo sua vida familiar sendo destruída e sem ter a quem recorrer contra toda essa violência, Elizabeth passou a viver na clandestinidade. Saiu de Sapé, foi para São Rafael, no interior do Rio Grande do Norte, e adotou o nome de Marta Maria da Costa, onde permaneceu escondida por 17 anos, lavando roupa e lecionando. Chegaram a pensar que ela havia morrido. Foi o cineasta Eduardo Coutinho quem a reencontrou, depois de muita procura. Em 1979, Elizabeth foi beneficiada pela Lei da Anistia, retornando para a Paraíba.
A história desta mulher, uma guerreira que lutou incansavelmente por reforma agrária, é encarada por sua filha, Maria José, e por sua neta, Wyliana Costa, com respeito, admiração e consciência política de que Elizabeth é uma grande heroína do povo brasileiro. Veja a seguir seus depoimentos.
Wyliana Costa/ neta de Elizabeth Teixeira
Existe algum fato que não conhecemos de Elizabeth que vocês possam nos contar?
Wyliana Costa/ neta de Elizabeth Teixeira: Acredito que a História de Elizabeth Teixeira está contada nos livros, trabalhos acadêmico e etc.
Vocês consideram que Elizabeth é uma pessoa injustiçada pela História? Por quê?
Wyliana Costa/ neta de Elizabeth Teixeira: Creio que sim, não só ela, mas todos que lutaram e lutam por um mundo mais justo e igualitário.
O que vocês diriam para a Elizabeth de 1962?
Wyliana Costa/ neta de Elizabeth Teixeira: Difícil demais essa pergunta, a questão emocional fala muito alto, não é fácil ver seus familiares com sequelas profundas, porém, a considero, uma grande heroína.
O que você sabe sobre as Ligas Camponesas a partir do que Elizabeth contou?
Wyliana Costa/ neta de Elizabeth Teixeira: Toda a sua vida foi dedicada a luta pela reforma agrária, então, desde criança, sempre ouvíamos seus relatos sobre o nosso avô João Pedro Teixeira e a continuidade que ela deu ao seu legado, principalmente para que todos os trabalhadores rurais mereçam respeito e garantia de direitos.
O que você considera o fato mais bonito e o fato mais triste na história de vida de Elizabeth?
Wyliana Costa/ neta de Elizabeth Teixeira: Considero, o fato mais bonito, ter sido Elizabeth, ao ver seu marido morto (meu avô), ter prometido que marcharia na luta dele, a frase icônica “Eu marcharei na tua luta” que ficará perpetuada para todos aqueles que almejam Justiça social. E o fato mais triste, com certeza absoluta, foi a separação dela com os seus filhos, com o golpe Militar em 1964, no qual ela foi forçada a partir para o exílio dentro de seu próprio País, e os 21 anos de separação dos mesmos. Que esse período NUNCA mais se repita. Elizabeth travou uma luta incansável pela reforma agrária, sempre sensível às causas mais urgentes do nosso povo.
Maria José/ filha de Elizabeth Teixeira
Quem é Elizabeth Teixeira para você?
Maria José/ filha de Elizabeth Teixeira: Elizabeth Teixeira, para mim, é a mulher que me deu a vida, sou filha dessa guerreira e tenho muito orgulho da GRANDE Elizabeth, ela que dedicou a sua vida por dias melhores para o homem do campo e por justiça social.
O que você acha da história de vida dela?
Maria José/ filha de Elizabeth Teixeira: A História de Elizabeth é sobre uma mulher que, ao ver seu esposo morto, prometeu que continuaria sua luta e seus ideais. A sua luta sempre foi pela terra, que representa vida, direitos sociais, justiça e igualdade.
Qual a memória mais bonita que você tem com Elizabeth?
Maria José/ filha de Elizabeth Teixeira: A memória mais bonita que eu tenho com a minha mãe, com certeza absoluta, foi o nosso reencontro, após 20 anos de distância e sem notícias alguma.
Nestes 100 anos de vida dela, como você espera que as pessoas lembrem de Elizabeth?
Maria José/ filha de Elizabeth Teixeira: O meu maior desejo é que as pessoas lembrem sempre de Elizabeth como uma heroína, uma mulher marcada para viver, porque com todo sofrimento que ela passou, chegar aos 100 anos, é uma Dádiva de Deus.
Existe alguma passagem mais marcante para Elizabeth nesta história toda que ela viveu, que ela conte a vocês?
Maria José/ filha de Elizabeth Teixeira: A minha mãe Elizabeth passou 20 anos na clandestinidade, sem ter notícias dos filhos, sem saber se éramos vivos ou mortos, tudo isso, motivado por uma ditadura militar, em que ela teve que fugir para não morrer, deixando seus filhos órfãos de pai, que tinha sido assassinado pelos latifundiários, e de ” mãe” causado pelos 21 anos de clandestinidade da minha mãe. O regime militar nos deixou sequelas irreparáveis. Para que nunca mais se repita em nosso País.
Entrevista realizada por Heloísa Oliveira